sábado, 7 de março de 2009

Agridoce

Me intriga o quanto se precisa do que se chama de Amor, em suas mais diversas acepções.

Os longos beijos, o pegar no cabelo, a conversa antes de dormir, o 'E aíí...Que tu fez hoje?"... Sempre fazem falta depois de um tempo.

Curioso, como se passa anos da vida sem isso e basta ser apresentado a este tom de rosa pra tornar-se um dependente.


É estranho o quanto a ausência de um amor, ou de algo que assim nomeiam, é calejante para a Auto- afirmação do indivíduo. E bem interessante, é observar que, em geral os inidvíduos convictos, com auto estima a mil, são os bem sucedidos nessa empreitada.

Alguém que não se vê, não se sente como "amado" tende a não ver muita graça naquela imagem que aparece quando ele se olha no espelho. Este mesmo espelho também vai ser testemunha de inúmeras auto flageções da imagem daquele ser, que de uma forma quase, senão, auto comiserante vai tentar encontrar um suas feições físicas a razão para sua "Solidão".


Quantas músicas não o fazem interrogar se de forma martirizante à busca de seus defeitos?

E as novelas? Os Romances? Os Beijos de Final de Filme? Que tortura não serão para esse desamparados.


Jabour disse uma vez que homens não namoram as Mulheres Deusas, só que ele também acertou ao lembrar que " Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta".

É. e então?

Não é aparência física, não são as qualidades.




E quando não há reciprocidade?


Dor das Grandes.


Por mais que sejamos reféns de toda essa modernidade e de sua tecnologia, ainda não aprendemos a comportarmo-nos como máquinas. A programar nossos sentimentos de acordo com cada situação, a apagar determinadas situações, leia -se com determinadas pessoas, como se aperta um botão de Liga/ Desliga. O pior é que de forma semelhante, ou mais intensa, nós estamos sujeitos a uma Pane no sistema, com direito a Explosão e tudo o mais.


Pior, que as vezes, quase sempre, essa loucura toda nem é amor.







São músicas, filmes, poesias, crônicas, fantasias em geral que tendem a simplificar os relacionamentos em geral. Como 2 +2= 4 ou algo mais simples ainda, no entanto, não é só o contato físico ou a conversa do fim de noite. É bem mais que isso.


E de uns tempos pra cá, nós temos cultivado o terrível hábito de banalizar o que de verdade é o Amor. Aliás, será que nós saberemos reconhecer um Amor?

Ainda há os casos em que o que mais se deseja é não admitir a existência disso, é negar, é agir racionalmente.Mas, como não funcionamos com o botão Liga/Desliga...

Desejo e Bom senso, então brigam feito irmãos. Certa música fala nesse duelo. A mesma fala também : "A manhã semeará outros grãos."


E é assim. Aquela dor lascinante, todo o vendaval, a infelicidade eterna passam.

É se deixar cortar nas primaveras e voltar inteira*

E preparar-se pra , de vez em quando, sentir um gostinho azedo.


*"Aprendi com as primaveras me deixar cortar para poder voltar sempre inteira"
Clarice Lispector.